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quinta-feira, 6 de julho de 2023

Conto "Dança dos Deuses: a lenda que virou filme"



Ele estava atrasado. O trânsito infernal de Mumbai não ajudava em nada. Ele tinha que chegar logo ao set de gravações, antes que o sol se pusesse. Ele era o diretor do filme mais esperado do ano, uma superprodução que iria contar sobre as heranças herdadas dos antigos povos do Subcontinente Indiano, em suas danças, que transferem essa cultura que tem mais de cinco mil anos de história.

Ele sabia que era uma responsabilidade enorme, mas também uma oportunidade única de mostrar ao mundo a riqueza e a diversidade da sua nação. Ele tinha trabalhado duro para conseguir o financiamento, o elenco, os figurinos, os cenários, a trilha sonora. Tudo tinha que ser perfeito. Ele não podia falhar.

Ele chegou ao set correndo, checando o horário no seu relógio. Já eram quase seis da tarde. Ele tinha apenas uma hora para filmar a cena mais importante do filme, a que iria encerrar a história com chave de ouro. Era uma cena complexa, que envolvia muitos atores, figurantes, efeitos especiais e coreografias. Ele tinha ensaiado várias vezes com os profissionais, mas ainda não tinha conseguido captar a essência da cena.

Ele entrou no set furioso, gritando com os atores e os técnicos que não estavam prontos. Ele exigiu que todos se posicionassem rapidamente, sem perder tempo. Ele pegou o megafone e anunciou:

  • Atenção, pessoal! Vamos começar a filmar a cena final do filme! Eu quero ver todo mundo dando o seu melhor! Essa é a nossa chance de fazer história! Vamos lá!

Ele olhou para o cenário e ficou satisfeito. Era uma réplica fiel de um antigo vilarejo de Devaloka, localizado no norte da Índia, onde o florescimento das artes estava sendo desenvolvido, com danças e religiosidades, uma delas a Kathak, que se formou como uma arte expressiva e tradicional dos povos Mongóis. Onde homens, contadores de história, iniciaram essa tradicional dança indiana. Que com as suas variações, antes dançada por Kathakas, agora por belas moças. A dança caracteriza-se pelos movimentos rítmicos dos pés, adornados com pequenos sinos (Ghungroo), e pela expressão facial e corporal das dançarinas.

Ele viu os atores principais se preparando para entrar em cena. Eles interpretavam os deuses Shiva e Vishnu, que decidiam realizar uma disputa de dança para ver quem era o melhor. Eles usavam trajes deslumbrantes e coloridos, que representavam seus atributos divinos. Eles eram acompanhados por seus servos e consortes, que também participavam da competição.

Ele acenou para o câmera-man e para o operador de som, indicando que estava tudo pronto. Ele respirou fundo e disse:

  • Ação!

A cena começou com a entrada dos deuses Shiva e Vishnu no palco improvisado, sob a luz do sol poente. Eles eram recebidos com aplausos e reverências pelos habitantes do vilarejo, que se aglomeravam para ver o espetáculo. Eles se cumprimentaram com respeito e desafiaram-se com olhares.

A primeira dança foi a Bhangra, um estilo de dança indiano originário do Punjab, que mistura elementos folclóricos e modernos. Era uma dança animada e vibrante, que exigia muita energia e coordenação dos bailarinos. Shiva e Vishnu mostraram suas habilidades e carisma, fazendo passos rápidos e saltitantes, balançando os braços e as mãos no ar, girando e pulando no ritmo da música.

O público ficou encantado com a performance dos deuses, que demonstravam alegria e entusiasmo. Eles batiam palmas e cantavam junto com a melodia. O diretor ficou impressionado com a naturalidade dos atores, que pareciam realmente se divertir com a dança. Ele sorriu e pensou que tinha feito uma boa escolha.

A segunda dança foi a Kathak, uma das danças clássicas da Índia, que se originou como uma forma de narrar histórias sagradas e lendárias. Era uma dança elegante e refinada, que valorizava a expressão facial e corporal dos dançarinos. Shiva e Vishnu mostraram sua graça e sutileza, fazendo passos delicados e precisos, movendo os olhos e as sobrancelhas, fazendo gestos simbólicos com as mãos e os dedos, girando e rodopiando no ritmo dos sinos.

O público ficou maravilhado com a performance dos deuses, que demonstravam beleza e harmonia. Eles ficaram em silêncio e admirados com a coreografia. O diretor ficou emocionado com a sensibilidade dos atores, que pareciam realmente contar uma história com a dança. Ele se arrepiou e pensou que tinha feito uma obra-prima.

A terceira dança foi a Bollywood, um estilo de dança indiano inspirado nos filmes populares do cinema de Mumbai, que mistura elementos das danças clássicas e modernas, além de influências ocidentais. Era uma dança divertida e criativa, que explorava a variedade e a originalidade dos bailarinos. Shiva e Vishnu mostraram sua versatilidade e inventividade, fazendo passos sincronizados e divertidos, mudando de figurino e de cenário, cantando e dublando músicas famosas e animadas do cinema indiano.

O público ficou extasiado com a performance dos deuses, que demonstravam humor e espontaneidade. Eles se levantaram e dançaram junto com os atores, seguindo os passos e as letras. O diretor ficou surpreso com a ousadia dos atores, que pareciam realmente fazer um filme dentro do filme. Ele riu e pensou que tinha feito um sucesso.

A cena terminou com Shiva e Vishnu abraçando-se e cumprimentando-se, reconhecendo o talento um do outro. Eles foram ovacionados pelo público, que os aclamava como os melhores dançarinos do mundo. Eles agradeceram com humildade e generosidade, convidando todos para celebrar a vida e a arte.

  • Corta! Esplêndido! Perfeito! - gritou o diretor, ao determinar o final da gravação.

Ele jogou o megafone no chão e correu para abraçar os atores, parabenizando-os pela performance incrível. Ele estava radiante de felicidade e orgulho. Ele tinha conseguido filmar a cena mais importante do filme, a que iria encerrar a história com chave de ouro. Ele tinha feito o filme dos deuses.

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