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segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Sim, eu falhei.

Sim, eu falhei!
Falhei com minha aluna surda. E poderia ter falhado ainda mais com qualquer outro aluno que apresentasse alguma excepcionalidade..., fosse um estudante cego, disléxico, ou autista, por exemplo, provavelmente erraria com ele também.
Erraria porque quem veio "antes de mim" também falhou. O Sistema de Ensino no Brasil, ao não me formar com o preparo necessário para ajudar aqueles alunos, ao não me instrumentalizar para visualizar suas reais necessidades, falhou por não me fazer enxergar essas pessoas. Não estruturou nossas escolas para recebê-los, para incluí-los como a lei determina e como eles precisam para desenvolver suas potencialidades. O sistema que privilegia os "melhores", os mais bem preparados, os que não passam necessidades financeiras, que exclui os mais fracos e exalta, por competição, os que mais se destacam, relega todos aos que são diferentes uma posição de invisibilidade.
Falhamos todos, Estado, família e sociedade, ao tornarmos invisíveis aqueles a quem dizemos amar, cuidar e respeitar. Deixamos para trás seres humanos cujos direitos dizemos proteger. Ainda estamos longe de "alcançar o patamar de humanidade". Podemos fazer parte da solução, mas, de forma geral, preferimos reproduzir os problemas, já que é mais comodo fechar os olhos. Somos uma sociedade terrivelmente ineficiente. Racionalmente entendemos o que precisa ser feito, mas não fazemos, e bradamos: "quem nos salvará do corpo desta morte?".
Somos a única espécie na Terra que constrói meios para exterminar a si mesma. Gostamos de privilégios, amamos regalias, excluímos os outros porque podemos, somos arrogantes e insensíveis.
Talvez não seja assim o tempo todo, afinal, existem pessoas altruístas, trabalhando para o bem comum, deixando suas casas e confortos para oferecer o que tem, em troca de um mundo melhor. Estes, considero seres superiores, respeitáveis, verdadeiros exemplos a serem seguidos. Eu apenas faço o que posso, o que está ao meu alcance realizar da forma como aprendi, que nem de longe é o bastante.
Quero melhorar como professor, estudar mais, ler mais, completar a minha formação com a instrumentalização necessária para alcançar os que sentem-se excluídos. Quero poder dizer que me sinto realizado com trabalho que fiz, e de como o aluno recebeu o que ensinei. Assim, quem sabe um dia, pessoas como minha aluna surda poderão ter orgulho de mim.

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