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domingo, 5 de novembro de 2017

Minhas memórias são parte de quem sou.



Jamais me esquecerei do caminho que percorria de volta para casa, partindo da escola situada em um bairro sereno de Manaus. As ruas eram adornadas por árvores majestosas de diversas espécies, cujos galhos e folhas se derramavam sobre as vias. Algumas, que na minha infância eu imaginava centenárias, ainda resistem ao tempo. As mangueiras, em particular, eram um marco, e recordo-me dos colegas que, ao deixar a escola, se aventuravam a colher mangas maduras, lançando pedras e engenhocas que só a inventividade infantil é capaz de criar.

Caminhava pelas calçadas ladeadas por mansões no Adrianópolis, algumas com jardins meticulosamente cuidados, outras cercadas por muros altos, que aos olhos curiosos de uma criança pareciam guardar segredos. A travessura de tocar campainhas e fugir era nossa pequena rebelião, fazendo-nos sentir audaciosos, especialmente quando alguém aparecia para atender.

Desde antes que minha memória se firmasse, aquele cenário era parte de mim, transmitindo uma paz que talvez emanasse da tranquilidade do local. A caminhada, embora breve, nunca era apressada. Às vezes, parecia que eu buscava, naqueles passos lentos, as lembranças de um lar que já não existia como antes. Aos 12 anos, a vida já havia me apresentado inúmeras mudanças: casa, bairro, amigos. Tudo se transformava, mas o caminho permanecia o mesmo, intocado.

Anos mais tarde, após me formar, voltei a percorrer aquelas ruas, agora como professor na escola onde outrora fui aluno. Era por volta de 2010, e o bairro havia se transformado, refletindo o progresso inexorável que substituiu as antigas mansões por edifícios modernos.

Hoje, minha relação com aquele espaço físico é diferente, mas ainda prezo pelas memórias daqueles momentos singelos. Após os 36 anos, compreendo que são essas lembranças alegres da infância que devemos preservar, pois elas nos ajudam a reconhecer quem somos ao nos olharmos no espelho. Cresci nos anos 80 e 90, e as recordações mais vívidas são daquela época. Não se trata de mera nostalgia, mas de um respeito profundo pelo passado.

Escrevi uma vez que não guardo rancor do meu passado, pois encontrei perdão nele. Esse perdão que abrange tudo, seja o que estava ou não sob meu controle. O passado me fortalece para encarar o futuro. Minhas memórias são a essência do meu ser, sob as camadas que a vida me fez construir. E assim, posso afirmar que, apesar de tudo, aquele caminho ainda vive em mim.

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