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quinta-feira, 8 de novembro de 2018



A teoria do Apocalipse.
(O Poema)
Em meio à esse fim
As pessoas amavam e lutavam
Desistiam e recaiam
Viviam e sentiam o amor ou ódio

Mas para quê tanto caos?
São coisas que nem o maior dos gênios da Terra poderia saber

Depois de tudo ter sido criado
Com muito amor
Tudo foi jogado no lixo
Como se não fizesse diferença
Somos pecadores, e quando nós erramos
Não podemos mais voltar atrás
A história da nossa existência já estava destruída
Porque tanto ódio depois de tanto amor?

Mas num piscar de olhos
Quando percebemos,
tudo já havia acabado
A esperança já não era a mesma
As coisas já não eram as mesmas

E no final muitas pessoas queriam viver

O Mundo era assim mesmo
Cada um com seu cada qual
Vivia-se assim mesmo, em meio ao caos

Ter que saber lidar com as diferenças
Afinal quem de nós somos ou já fomos iguais?
O cotidiano era algo inexplicável

A história de nem se quer uma vida,
Tinha mais existência
Felicidade ou tristeza
Os demônios de que nós somos feitos foi o suficiente
E assim acabou-se quase tudo

Não acabou tudo porque sabíamos
Que ali algo ainda existia
Para quê desistimos
Se o impossível
nem se quer já foi “Cumprido” ou “provado”!?

quinta-feira, 12 de julho de 2018

O intolerante



O intolerante precisa eleger inimigos, 
pois é através da concorrência que tenta provar para si e para outros que é superior. 

O intolerante sente-se ameaçado pelo que é diferente. 
Tem medo, por isso instiga, grita, provoca, até conseguir atingir primeiro quem elegeu como adversário.

O intolerante pode ser desumano e violento para tentar provar que está certo, não reconhece seus erros na mesma proporção com que os comete.

O intolerante espalha o medo para manter pessoas cativas ao seus mandos.

O intolerante não sabe liderar, como um animal ele caça, e pode atacar até seus aliados mais próximos para conseguir o que quer.

O intolerante se acha superior, mas é inferior em sua essência. 
Ele não valoriza a vida, nem a sua nem a alheia. 

O intolerante se alimenta de ódio, mas é faminto de amor. 
Ele não sabe o que é paz, nem o que é felicidade. 

O intolerante se isola em sua ilusão, mas é carente de sentido. 
Ele não encontra a sua luz, nem a sua verdade. 

O intolerante é um ser doente, que precisa de cura e libertação. 
Ele não conhece a si mesmo, nem ao seu Criador.

(Erison S. Lima)

quarta-feira, 4 de julho de 2018

Educar é ensinar a sonhar



De todas as profissões desafiadoras, o magistério talvez seja a que mais exige paciência, temperança e domínio próprio. Isso porque os profissionais que não conseguem desenvolver estas capacidades acabam por desistir da carreira, ou pior, tornam-se frustrados, amargurados e tomados por todo tipo de cansaço e tristeza. Tornam-se aquelas pessoas que reclamam de tudo, chatas, cheias de críticas, de difícil convivência, insuportáveis. 

A Educação é um desafio porque trata do ser humano, com seus desejos, seus sonhos, suas angústias e alegrias. Mas também do que de pior existe nele: sua maldade, seu egoísmo, sua soberba, seu orgulho, suas raivas, seus ódios, seus traumas, medos e misérias. 

Nesta perspectiva, educar é aprender a afinar um instrumento muito complexo: o ser humano, é trabalhar para gerar no educando incômodos, provocações. Mas acima de tudo, autoconhecimento. Para isso, ele precisa se questionar para se conhecer, encontrar-se e, baseado neste encontro, começar a fazer boas escolhas. 

Muitas vezes quando nos deparamos com o que existe de pior no outro, essa experiência gera conflitos, dores, revoltas, até nojo e indignação. Não são poucos os colegas que passam por injustiças e perseguições em sala de aula e fora dela. 

Neste sentido, o professor precisa ser um indivíduo desprovido de qualquer idolatria à autoimagem. Precisa ser capaz de não se sentir ofendido ao ser questionado, mas abrir-se para buscar novas respostas, novas possibilidades de ensinar, aceitando ou repelindo argumentos contrários, em busca da verdade. Para que isso aconteça, a vaidade do saber, característica tão peculiar deste tipo de profissional, precisa estar submetida a uma ética e a uma moral profundamente enraizadas. 

Lidar com o outro não é fácil. Dá trabalho, é cansativo, insalubre e até ingrato. Mas quem é professor de fato tem em si motivos que vão além do que vê. Professor é quem acredita. Sim! Professor não é só quem ensina mas também quem sonha. E acima de tudo quem sabe que o que faz é tão importante que só pode ser feito por alguém como ele. Educação é a única maneira encontrada pela humanidade até hoje para criar outros indivíduos melhores e mais bem preparados para a vida do que seus antecessores.

(Erison S. Lima)

segunda-feira, 2 de julho de 2018

Aos que ainda conservam esperanças




Bom dia aos que ainda conservam esperanças;
aos que ainda tem sonhos.
E até aos que guardam utopias.
Um salve aos que creem em milagres.
A todos os que lutam hoje e descansam,
para amanhã lutar novamente.
A Paz aos que vivem com os pés na terra,
corações nos céus e pensamentos no futuro.
Parabéns aos acordam todas as manhãs
e contam mais um dia
e não menos um dia.
Um abraços aos que se alegram com a justiça,
abraçam a liberdade e amam a verdade.
Para estes amar nunca é de mais.
Bom dia

(Erison S. Lima)

domingo, 1 de julho de 2018

Pródigo



Pródigo
Voltar para os braços do Pai não é promessa de perfeição futura,
é prova de amor presente.

Pródigo
é todo aquele que admite suas falhas e cai em si.
Reconhecer as próprias misérias é voltar pra casa.

Pródigos
Não são os que se dizem santos e puros,
hipocritamente,
mas são os que batem no peito,
pedindo misericórdia.
Estes conseguem voltar pra casa e refazer suas vidas.

Pródigo
O abraço do Pai não é só você voltando pra casa,

é a casa inteira voltando pra você.

terça-feira, 12 de junho de 2018

Alguma coisa muito errada


Quando pobre começou a andar de avião, alguma coisa estava errada neste país; quando pobre começou a comprar casa, carro, eletrodomésticos, algo estava errado neste país; quando empregada doméstica passou a ter seus direitos resguardados – carteira assinada, férias, 13º, etc... - algo estava muito errado neste país; quando a música da favela desceu para o asfalto, algo estava errado neste país; quando a religião da maioria começou a ser questionada, algo estava errado neste país; quando os pretos começaram a sonhar em ter melhores oportunidades, algo estava errado neste país; quando as mulheres agredidas começaram a denunciar agressores e não aceitar mais as violências diárias, algo estava errado neste país - pensavam eles.

Algo está errado num país em que seres humanos odeiam outros de forma gratuita; em que os “esclarecidos” não esclarecem; em que os que possuem mais querem evitar que outros também possuam; algo está errado num país que vive de escândalo em escândalo, de protesto em protesto, cada vez mais paralisantes.

Algo está errado num país onde nada se planeja, nem existe qualquer projeto de futuro; algo está errado em uma pátria que se diz mãe, mas despreza os seus filhos mais humildes; algo está errado com um povo que não conhece o seu próprio passado e despreza aprender com os erros de outros tempos; algo está errado em num país em que a classe média acha que é rica e o rico acha que manda em tudo.

Algo está errado quando achamos tudo isso normal, e adoecemos da mesma doença que tomou outras mentes e corações; algo está errado quando não refletimos, quando não cobramos, quando não nos cobramos, quando desistimos...; algo está muito errado.

domingo, 10 de junho de 2018

Oração.




Oração.

Muito mais do que palavras,
balbuciadas ou gritadas.

Muito mais do que um choro intenso,
e vestes rasgadas em aparente humilhação.

Muito mais do que pode ser visto e ouvido pelos outros,
o clamor é recebido pelo Altíssimo,
segundo o que trazemos no coração,
ainda que sem palavras.

Pois,

na alma,

onde reinam a sinceridade e a verdade,

os gemidos inexprimíveis são ouvidos e respondidos.

Aroma suave…

Parte II.

Por favor, ensine-me a orar, 
como um filho que pede das mãos de um pai 
o pão que ele partiu com própria a boca.


Ensine-me a dizer palavras, 
somente as que são verdadeiras.


Ensine-me a transformar choro em canção; 
tristeza em gratidão; 
rancor em paixão. 

Ensine-me a ser simples como o pássaro; 
prudente como a serpente; 
maduro como um carvalho centenário; 
bondoso como um pai, que não recusa dar tudo o que tem 
ao filho a quem quer bem.

domingo, 13 de maio de 2018

Todas são Mães-Marias


Suspenso na goiabeira,
Do céu o mais
Próximo que podia
O Menino Trepado
Pensou em Maria

Lembrando de vozes
De adultos múltiplas
Ouviu em ruídos
A importância que todos
Davam a certeza
De ser de Jesus
Mae

"Tendo no mundo
Tantas e tantas mães
Por que - Maria -
Mae de Jesus
Ser tão falada?"

Na pergunta refletida
Na pergunta refletida
O que não foge aos pequeninos
Não pensavas
O quanto de problemas
No mundo colocava

(Ora! As crianças
Estão no mundo para isso
Bem diga Manoel
Que é de Barros
Criança
Desconcertar
E trazendo ternura
A um espírito endemoniado
O amor libera)

- mas voltemos
- a quem?
- ao menino Trepado.
"Este menino Jesus
Deve ser muito feliz
Mais feliz
Deve ser sua mae
- Maria-
Pois da minha
Além de meu pai
E mãe de minha mãe
Irmãos e outros tantos
Falo eu,
E quando em algum descuido cósmico
Dela esqueço
Ela, afectuosamente,
Lembro-me com ternura
Que em mim vive
E jamais de mim vais se separar
O Menino Trepado
Mais perto do céu estava
E lá em cima
Onde embaixo
Tudo termina
Teve de sopapo
Um estalo:

"Lembro da Mae-Maria
Todos dizerem
Ser importante
Pois virgem
A seu filho primeuro
Concebeu"

Na idade da riqueza
Onde todo afecto
Do sexo se afasta
O Menino Trepado
Viu que ser virgem
A nada de nada
Importava

Era presico
À explicação adulta
Descomplicar
E ao complexo
Expulsar

Mais perto do céu
De onde quem lá chegar
Sair nunca pode desejar
O Menino Trepado
Divino como todo pequenino
Em palavras silenciou:

Mae-Maria
Ao menino Jesus
Virgem o concebeu
Fez por pedido de Deus
(Também crianca)
Mas l, mais do que nunca
Fez-se mae
Por mae de Jesus
Escolher ser

Em Mae não há segredo
Todas são Maes-Marias
E muitas Marias há
Pois todo filho
Só é desta condição
Não quando concebido
Mas com amor e afecto
Escolhido "                                                                                                                                                                                                                             
(Poema de Evanilson Andrade)

terça-feira, 1 de maio de 2018

DA ALEGRIA DOS 30 ANOS DO BAIRRO SÃO JOSÉ DE MANAUS

SÃO JOSÉ FALA AO POLI DA ALEGRIA DOS 30 ANOS DO BAIRRO SÃO JOSÉ DE MANAUS

(Por Evanilson Andrade)

Este Poli, por suas andanças etílicas pelas ruas dos bairros de Manaus, encontrou o companheiro São José, tomando umas nas quebradas da zona leste, justamente quando se comemora 30 anos do Bairro São José, na cidade de Manaus. Dia também de festa para ele, São José. Conversamos, então, como velhos amigos que somos de conversas úmidas, sobre variados assuntos. Com a sua devida permissão, reproduzimos aqui, da conversa que tecemos, aquilo que lembramos.
POLI (muito alegre por encontrar figura tão fora do comum) — Festejando a festa do Bairro aqui em Manaus que lhe homenageou com o seu nome?
São José (rindo e tomando um trago suavemente) — É uma alegria encontrar vocês por aqui. Respondendo a sua pergunta, não estou festejando homenagem alguma. Não acredito nas relações capitalísticas hierárquicas que podem estabelecer uma ordem entre dominados e dominadores, como a homenagem consagra. Se este querido povo deste bairro me escolheu para seu nome, eles escolheram como nome próprio. Como nome de um operário, pai, lutador e alegre que sou. Eles são tudo isso.
Poli (tentando se deslocar da gafe) — Então bebe para comemorar a alegria de um povo que escolheu o nome para seu bairro o de um santo guerreiro?
São José (rindo alegremente) — Todo santo, para além das convenções dogmáticas teológicas da igreja católica, é um transgressor. Só é santo aquele que escolheu para sua existência a práxis da produção ontológica social de sua época. Assim, companheiros, como disse a alegria chamada Nietzsche: “todos os homens superiores, que eram irresistivelmente levados a romper o julgo de uma moralidade e instaurar novas leis não tiveram alternativa. Caso não fosse realmente loucos, senão tornar-se ou fazer-se de loucos — e isto vale para os inovadores em todos os campos, não apenas no da instituição sacerdotal e política”.
POLI (cientificamente) — É aí que podem dizer que tu foste guiado pelos sonhos?
São José (farsante) — não entendi!
POLI (em tentativa estúpida de explicação) — Dizem que o senhor não seguiu os desígnios divinos, mas seus sonhos. Seria Freudiano?
São José — Não, Freud não tem vez aqui. Já falei com ele e ele sabe bem disso. A questão é de sonhos como multiplicidades. Tive quatro sonhos. E em todos os quatros os bairros estão neles.
POLI (ignorantemente) — Como assim, bairros?
São José (pedindo afetivamente um copo com azeitonas e palitos, para tira gosto) — Valeu! Sim, bairros! Santa Catarina, São Paulo, Recife, Paraíba, Belo Horizonte e várias outras cidades têm bairros com o meu homólogo. Isto aqui no Brasil.
Poli — E a parada dos sonhos com relação ao bairro aqui de Manaus?
São José (retomando o pensamento e sorrindo enquanto palita os dentes) — Vou contar para vocês. O primeiro foi quando o anjo do Cara disse para eu não ter receio em receber Maria por ela está grávida do Espírito Santo. Preste atenção! Só conheci Maria quando ela deu à luz a Jesus. Sem Mistério algum, o que aconteceu foi bom e simples. Não tive a preocupação de ser tachado como corno, marido traído. A questão é comunitária. Receber e ser recebido na alegria de um novo nascimento no mundo. Quando o são José nasce aqui em Manaus são várias famílias que vem para cá para produzir, criar e desenvolver uma nova vida. Seus desejos vão movimentar suas produções. São pobres. Uns recebem os outros solidariamente. Eles são a alegria do mundo. Depois no São José…
Poli (curioso e tomando um trago) — Podemos falar disso depois. Fale do segundo sonho.
São José (passando a mão em um gato que se esfrega em sua perna) Sim. Este foi barra. Eu já estava estabelecido efetivando a minha função, com uma família, quando o anjo disse para eu fugir para o Egito que Herodes queria matar o menino Jesus. Puta que Pariu! Que barra! Herodes matou muita criança. Eu consegui fugir, mas não esqueci os gritos das outras crianças. É este o lance com o bairro. Todas as suas crianças tem que ser responsabilidade de todos. No início é bem assim. Uma grande comunidade, mas, infelizmente, os interesses individuais estão cada vez mais se adequando aos interesses globais de uma política e economia perversa. Aí, um egoísmo racional prevalece. Mas isto para todos os bairros do mundo.
Poli (sentindo a ambiência se alterar) — É barra mesmo. Conta aí o outro.
São José (segurando a parada) — Legal. São mais dois. Uma mistura de alívio com necessidade. Fui avisado pelo anjo para sair do Egito e voltar para onde estava. Mas agora quem reinava lá era Arquelau, filho de Herodes, então o anjo avisou de novo para eu ir para a Galiléia. Mais uma vez a parada é não ficar passivo a estas ações. Tinha filho, esposa, mas podia ter ido lutar contra aquele regime autoritário de Herodes e que agora era de seu filho. Todo bairro tem que manter seus moradores unidos por laços de solidariedade que os fazem produzir atos revolucionários, mudando toda a realidade e estrutura das suas ruas e das famílias que ali vivem. Cara sei disso agora. Mas tinha a responsabilidade de cuidar do menino Jesus. Aí…
Poli (aproveitando a oportunidade) — É aí que entra a tua importância como pai?
São José (passando a mão nas longas barbas brancas) — Talvez sim. Mas aí tem um problema. O lance de ser pai, não é apenas cuidar do seu filho. É também compreender que este filho pode e vai, com todo o direito a fazê-lo, produzir uma existência própria. E às vezes ele vai mais além dos pais. Ficam maiores e passam a ser os seus mestres, em uma inversão das funções familiares. Foi o caso do menino Jesus. Menino porreta! Sempre presente e atento a Terra. Com as coisas daqui.
Poli (querendo abafar) — É aí que Jesus nos diz que Deus é imanente?
São José (em um corte, gargalhando gostosamente) — Ora! Deus sempre foi imanente. Ele existe dentro de nós, em nossas ações, em nossa fé. O que ainda não sacaram, como a outra alegria chamada Spinoza já tinha sacado, é que o lance é a materialidade de Deus (e aí, aqui acrescento por conta própria: a materialidade dos ensinamentos do menino Jesus)em comportamentos religiosos como força produtiva principal para uma transformação ética e política do mundo.
Poli — E os santos são então imanentes também?
São José (Pensativo) — Gostei. Não tenho transcendência alguma, mesmo. Nem eu nem nenhum santo. Lembro muito do companheiro São Francisco. Militante, político. Como ele pode ser transcendência? Não há como.
Poli — E a Igreja?
São José (olhando para todos em volta do bar) — Aqui! Somos nós e nossas ações e atitudes. Tudo começa pela Terra e percorre a Terra para modificar a Terra.
Poli (Satisfeito por ter tido a oportunidade de conversar com São José) — para terminar por enquanto, fala sobre o crescimento comercial do teu bairro homólogo aqui em Manaus.
São José (pedindo a conta, que foi dividida) — Olha, o que acontece no São José é a evidência de que os comerciantes sabem onde fica a verdadeira movimentação financeira. Eles não são como economistas mitificados que acreditam que esta movimentação esteja no abstrato, fora do real. É onde existe as pessoas verdadeiras com as suas necessidades verdadeiras, produzindo com os seus desejos, é lá onde tudo se movimenta, até a grana. O São José é um grande mercado, ou seja, um ponto de encontro.
Poli (abraçando e sendo abraçado por São José) — Valeu!
São José (lembrando) — Olha! Como tá lá no Evangelho apócrifo na parte da História de José o carpinteiro, capítulo XXX, n. 3, escrito entre os séculos IV e V no Egito, “Quando fordes revestidos de minha força e receberdes o Sopro de meu Pai, isto é, o Espírito Paráclito, e quando fordes enviados a pregar o evangelho, pregai também a respeito de meu pai José.” Falou Moçada!
Intempestivamente: o encontro com São José não se deu em nenhum lugar da superstição ou de uma consciência mitificada e mistificada. O encontro aconteceu como todos ao outros encontros: nos acasos da existência. E com amor conversamos todos.


segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

Não imaginava



Passou por mim na Avenida Margarita, às 16:30 de ontem, quando eu voltava do trabalho para casa, olhei no retrovisor e vi um carro vindo em altíssima velocidade, joguei o meu para a direita, e ele passou como um raio, vidros fechados, não consegui ver o rosto do motorista, foi quando percebi a polícia atrás, sofrendo para persegui-lo, óbvio, era uma fuga. O carro perseguido dobrou à esquerda, em frente ao posto Ipiranga, e seguiu pelas ruas do Alfredo Nascimento. À essa altura, outras viaturas somavam-se ao lento comboio, a destreza do motorista perseguido era notória. À certa altura, os outros tripulantes do carro baixaram os vidros, e trocaram tiros com a polícia, que revidou e acertou um único tiro no motorista, que mesmo baleado conseguiu guiar o veículo durante metros, até cair de um barranco. Os tripulantes, homens que praticavam assaltos à mercadinhos (pratica comum por essas bandas) correram e sumiram pelo mato adentro, no automóvel, a identidade do motorista se revela: uma menina, 18 anos apenas, ela tinha nome e sobrenome, e havia escolhido um caminho ruim para si. Na internet, além dos tradicionais comentários e palavrões destinados à defunta (como se fossem melhorar sociedade), dizem que Dariane Costa Ferreira deixa órfão um menino. Imagino que com essa idade, ela poderia ter sido minha aluna, poderia ter sentado em uma das cadeiras dos terceiros anos, poderia ter sido nossa conhecida e companheira de jornada. Talvez ela morasse no Cidade de Deus, bairro com maior número de mortes violentas em Manaus. Talvez, se tivesse pensado mais um pouco não entrasse nessa.
Ao contrário do que alguns possam pensar isso não é pena, nem defesa de bandido, é tristeza por toda essa história de vida e desejo que outras jovens, das centenas que passam por nós todos os dias, não entrem no mesmo caminho e escolham para si sempre o melhor

sábado, 27 de janeiro de 2018

Aprendi com Randy Pausch

Terminei hoje a leitura do best seller "A Última Lição", de Randy Pausch.
Randy foi um professor de ciência da computação na Carnegie Mellon, que diante de um diagnóstico de câncer terminal no pâncreas, resolve subir ao palco do auditório da universidade onde dava aulas para proferir sua última aula, uma palestra de despedida, na presença de alunos, ex-alunos, colegas de trabalho, amigos e familiares. É um livro inspirador, não é a toa seu número de vendas ao redor do mundo e o sucesso de sua palestra em vídeo, disponível até hoje na internet. 
Randy faleceu em 25 de julho de 2008, mas deixou essa obra, segundo ele mesmo, para seus filhos. Mas nós, leitores, aproveitamos para aprender com seu exemplo, e por ele ter sido um professor, isso chama ainda mais a minha atenção. 
O livro é tão simples quanto tocante e cheio de frases inspiradas, mas um momento que me marcou profundamente é quando ele fala sobre seus pais:    
"Meus pais sabiam o significado real de ajudar as pessoas. Estavam sempre em busca de grandes projetos fora do comum e se dedicavam a eles de corpo e alma. Mantinham um alojamento para cinquenta meninas no interior da Tailândia, destinado a mantê-las na escola e longe da prostituição.
Minha mãe sempre foi extremamente caridosa. E meu pai se contentava em dar tudo o que tinha e andar mal vestido, em vez de morar em um bairro melhor (...). Nesse sentido, considero-o o homem mais "cristão" que conheci. Também foi um grande batalhador em prol da igualdade social. Diferentemente da minha mãe, ele não simpatizava muito com religiões organizadas. Preferia se dedicar a ideais mais nobres e dizia que a igualdade era o maior de todos os objetivos. Tinha grande esperança na sociedade e, embora muitas vezes a realidade o contrariasse, sempre foi um otimista ferrenho.
Aos 83 anos meu pai foi diagnosticado com leucemia. Ao saber que lhe restava pouco tempo de vida, tratou de doar seu corpo para a medicina e fez uma doação para que seu programa na Tailândia durasse pelo menos mais seis anos". (p.36 e 37)
Este trecho em especial me tocou não somente porque através dele conhecemos a grandiosa generosidade do pai de Randy, mas por sua disposição (e este é o exemplo que tiro para mim) de não ficarmos apenas nas palavras, num cristianismo de púlpito, de fins de semana, de retiros e pregações uns para os outros. Mas, de sermos gente que age na direção do que acredita, ninguém precisa virar missionário, deixar o emprego ou mudar-se de país para isso, basta começar a fazer o que pode, segundo os seus recursos e energia para a construção de um futuro melhor para todos.

terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Quantos pedaços ainda me faltam?

"Eu nunca conheci alguém assim, não um adulto. A maior parte do tempo ele era adulto, mas faltavam uns pedaços nele..." Pensava o jovem James à respeito do homem acabara de conhecer e que o abraçava fraternalmente, visivelmente emocionado por saber que, mesmo tendo errado tanto na vida, sua filha, a namorada do jovem, ainda o amava, talvez amasse muito mais a imagem de pai construída durante os anos de ausência, mas isso não importava pra ele naquele exato momento.
Podemos imaginar, que segundo o adolescente, Leslie é um adulto que não se percebe, e vemos isso ao longo dos dois últimos episódios de The End Of de F***ing World, disponível na Netflix. Esse mundo, descrito pelos olhos dos jovens Alysse e James, cumpre sua função de "ferrar" a vida de todos (como diria Kurt Cobain "ninguém morre virgem..."). A dupla de diretores Jonathan Entwistle e Lucy Tcherniak acompanhada do roteirista Charlie Covell nos conduz sob a perspectiva recorrente em séries inglesas de teor niilista, iconoclasta, em que ninguém é perfeito, não existem heróis. Alyssa busca o encaixe, quer descobrir qual é o seu lugar, mas antes de tudo, suprir uma falta de não se sabe o quê. James a acompanha nessa jornada na primeira metade da trama com um objetivo que ele pensa ser claro, mas que vai se revelando ser outro ao longo dos curtos oito episódios. 
A série bem que poderia ter mais, o final deixa definições em aberto. Porque o que importa de fato não é sabermos o fim, mas o processo de como essa trama se desenrola, e quem são essas pessoas.
Leslie o pai "perdido" de Alyssa é descrito na cena destacada como alguém cujos pedaços lhe faltam. Ao longo da nossa existência conhecemos muitas pessoas assim. Gente que parece não ter crescido mas por um motivo bem perceptível, não sabe onde precisa crescer. Se um dos aspectos da vida adulta está em assumir responsabilidades, sejam conjugais e ou com a criação de filhos, o homem retratado ali foge. E continua a fugir até agora, quando a vida parece começar a cobrar-lhe as contas de suas irresponsabilidades. 
Ao ver esta cena, a pergunta que ressoa e que pode ser respondida, discutida, mas não rejeitada por nós, que somos todos filhos de alguém, mas princialmente pelos que hoje são pais é: quantos pedaços ainda me faltam?

Vocação e Valor: A Realidade dos Professores

Segundo uma postagem no Instagram do Jornal O Globo, publicado hoje,  oito em cada dez professores  já consideraram a possibilidade de mudar...