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terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Quantos pedaços ainda me faltam?

"Eu nunca conheci alguém assim, não um adulto. A maior parte do tempo ele era adulto, mas faltavam uns pedaços nele..." Pensava o jovem James à respeito do homem acabara de conhecer e que o abraçava fraternalmente, visivelmente emocionado por saber que, mesmo tendo errado tanto na vida, sua filha, a namorada do jovem, ainda o amava, talvez amasse muito mais a imagem de pai construída durante os anos de ausência, mas isso não importava pra ele naquele exato momento.
Podemos imaginar, que segundo o adolescente, Leslie é um adulto que não se percebe, e vemos isso ao longo dos dois últimos episódios de The End Of de F***ing World, disponível na Netflix. Esse mundo, descrito pelos olhos dos jovens Alysse e James, cumpre sua função de "ferrar" a vida de todos (como diria Kurt Cobain "ninguém morre virgem..."). A dupla de diretores Jonathan Entwistle e Lucy Tcherniak acompanhada do roteirista Charlie Covell nos conduz sob a perspectiva recorrente em séries inglesas de teor niilista, iconoclasta, em que ninguém é perfeito, não existem heróis. Alyssa busca o encaixe, quer descobrir qual é o seu lugar, mas antes de tudo, suprir uma falta de não se sabe o quê. James a acompanha nessa jornada na primeira metade da trama com um objetivo que ele pensa ser claro, mas que vai se revelando ser outro ao longo dos curtos oito episódios. 
A série bem que poderia ter mais, o final deixa definições em aberto. Porque o que importa de fato não é sabermos o fim, mas o processo de como essa trama se desenrola, e quem são essas pessoas.
Leslie o pai "perdido" de Alyssa é descrito na cena destacada como alguém cujos pedaços lhe faltam. Ao longo da nossa existência conhecemos muitas pessoas assim. Gente que parece não ter crescido mas por um motivo bem perceptível, não sabe onde precisa crescer. Se um dos aspectos da vida adulta está em assumir responsabilidades, sejam conjugais e ou com a criação de filhos, o homem retratado ali foge. E continua a fugir até agora, quando a vida parece começar a cobrar-lhe as contas de suas irresponsabilidades. 
Ao ver esta cena, a pergunta que ressoa e que pode ser respondida, discutida, mas não rejeitada por nós, que somos todos filhos de alguém, mas princialmente pelos que hoje são pais é: quantos pedaços ainda me faltam?

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